terça-feira, novembro 20, 2012

terça-feira, outubro 30, 2012

sexta-feira, outubro 05, 2012

No Coração, Talvez


No coração talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta
Na total consciência nos retalha
O desejar, o querer, o não bastar
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.”

José Saramago - No Coração, Talvez

terça-feira, setembro 04, 2012

PALAVRAS E SENTIMENTOS




EXISTEM PESSOAS TÃO POUPADAS 
COM AS PALAVRAS E OS SENTIMENTOS
QUE EU CHEGO A ACREDITAR 
QUE ELAS ACREDITAM 
QUE O CORAÇÃO E A ALMA
PAGAM JUROS 
PARA AS PODER GUARDAR....
...
NADA MAIS ERRADO ....
POIS COM O TEMPO E O SILÊNCIO
ESSAS PALAVRAS E SENTIMENTOS 
APENAS SE DESVALORIZAM.
NADA MAIS DO QUE ISSO ....

quarta-feira, julho 25, 2012

terça-feira, julho 24, 2012

Um dia escreveste...

terça-feira, julho 03, 2012

Madre ...


" Por todas as razões e mais uma.
Esta é a resposta que costumo dar-te
quando me perguntas por que razão te amo.

Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém.
Porque não pode haver
nem há só uma razão para te amar.

Amo-te porque me fascinas
e porque me libertas
e porque fazes sentir-me bem.

E porque me surpreendes
e porque me sufocas
e porque enches a minha alma de mar
e o meu espírito de sol
e o meu corpo de fadiga.


E porque me confundes
e porque me enfureces
e porque me iluminas
e porque me deslumbras.

Amo-te porque quero amar-te
e porque tenho necessidade de te amar
e porque amar-te é uma aventura.

Amo-te porque sim
mas também porque não
e, quem sabe, porque talvez.

E por todas as razões que sei
e pelas que não sei
e por aquelas que nunca virei a conhecer.

E porque te conheço
e porque me conheço.

E porque te adivinho.

Estas são todas as razões.

Mas há mais uma:
porque não pode existir outra como tu. "

...


amo-te pelos teus defeitos refinados
e amo-te pelas tuas virtudes raras ...

Não Pode Existir Amor Sem Verdadeira Troca


" Não te lembras de ter encontrado na vida aquela que se considera um ídolo?
Que havia ela de receber do amor?


Tudo, até a tua alegria de a encontrares, se torna homenagem para ela.
Mas, quanto mais a homenagem custa, mais vale: ela saborearia melhor o teu desespero.
Ela devora sem se alimentar.
Ela apodera-se de ti para te queimar à sua honra.
Ela é semelhante a um forno crematório.
Ela, na sua avareza, enriquece-se de várias capturas, julgando encontrar a alegria nessa acumulação.
E não acumula mais do que cinzas.
Porque o verdadeiro uso dos teus dons era caminho de um para o outro, e não captura.
Ela verá penhores nos teus dons e abster-se-á de tos conceder em paga.
Na falta de arrebatamentos que te satisfariam, a falsa reserva dela far-te-á ver que a comunhão dispensa sinais.
É marca da impotência para amar, não elevação do amor.
Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento.
Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de um palavreado.
Não descuides as felicitações, nem os presentes, nem os testemunhos.
Serias capaz de amar a propriedade, se fosses excluindo dela, um por um, como supérfluos, porque particulares demais, o moinho, o rebanho, a casa?
Como construir o amor, que é rosto lido através da urdidura, se não há urdidura sobre a qual escrever?
Sem cerimonial de pedras, não haveira catedral.
Nem haverá amor sem cerimonial em vistas do amor.
Eu só atinjo a essência da árvore se ela modelou lentamente a terra segundo o ceriomonial das raízes, do tronco e dos ramos.
Nessa altura, ela é una.
Tal árvore e não uma outra.
Mas aquela acolá desdenha as trocas, que a haviam de fazer nascer.
Ela procura no amor um objecto capturável.
E esse amor não tem significado algum.
Ela julga que o amor é presente que ela pode fechar nela.
Se tu a amas, é porque ela te conquistou.
Ela fecha-te nela, convencida de enriquecer.
Ora o amor não e tesouro a conquistar, mas obrigação de parte a parte, fruto de um cerimonial aceite, rosto dos caminhos da troca.
Jamais essa mulher nascerá.
Só de uma rede de laços se pode nascer.
Ela continuará a ser semente abortada, poder por empregar, alma e coração secos.
Ela há-de envelhecer funebremente, entregue à vaidade das suas capturas.
Tu não podes atribuir nada a ti próprio.
Não és cofre nenhum.
És o nó da diversidade.
O templo, também é sentido das pedras."


Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela" 

quarta-feira, junho 20, 2012

Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda.





" Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda.


Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humana vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha da página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.
Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades.

Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.

Em Portugal quase tudo se resume a começos e a encerramentos. Arranca-se com qualquer coisa, de qualquer maneira, com todo o aparato. À mínima comichão aparece uma ‘iniciativa’, que depois não tem prosseguimento ou perseverança e cai no esquecimento. Nem damos pela morte.
É por isso que eu hoje respeito mais os continuadores que os criadores. Criadores não nos faltam. Faltam-nos continuadores. Faltam-nos tenentes. Heróis não nos faltam. Faltam-nos guardiões.


É como no amor. A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas – sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades – é o que distingue os seres humanos. O nascimento e a morte não têm valor – são os fados da animalidade. Procriar é bestial. O que é lindo é educar.

Estou um pouco farto de revolucionários. Sei do que falo porque eu próprio sou revolucionário. Como toda a gente. Mudo quando posso e, apesar dos meus princípios, não suporto a autoridade.
É tão fácil ser rebelde. Fica tão bem ser irreverente. Criar é tão giro. As pessoas adoram um gozão, um malcriado, um aventureiro. É o que eu sou. Estas crónicas provam-no. Mas queria que mostrassem também que não é isso que eu prezo e que não é só isso que eu sou.
Se eu fosse forte, seria um verdadeiro conservador. Mudar é um instinto animal. Conservar, porque vai contra a natureza, é que é humano. Gosto mais de quem desenterra do que quem planta. Gosto mais do arqueólogo do que do arquitecto. Gosto de académicos, de coleccionadores, de bibliotecários, de antologistas, de jardineiros.


Percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salva-las desse destino é a coisas mais bonita que se pode fazer. Haverá verbo mais bonito do que ‘salvaguardar’? É mais fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. Isto ensinou-me o amor da minha vida, rapariga de esquerda, a mim, rapaz conservador. É por esta e por outras que eu lhe dedico este livro, que escrevi à sombra dela.

Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. Criar é fácil. As obras de arte criam-se como galinhas. O difícil é continuar.
Este livro é uma série de começos contrariados. Tem muita mentira, muito desespero, muita invenção. Mas tem também uma vontade. A vontade que tem é de cegar perante as luzes da nossa idade – o elogio do eu e da sua expressão – para reaver os sons e os cheiros das coisas que duram. O amor, a Pátria, a amizade, o sangue, o pão. É nestas coisas que acredito. Isto é mesmo verdade.


Não estou a brincar. Estou arrependido. A minha função não é criar – é presenciar. Não é tanto ser esperto, como despertar. Fico feliz, não quando invento, mas quando descubro. A minha missão não é achar, no sentido de quem opina. É achar no sentido de quem encontra. Não é abrir nem fechar – é tentar ver e querer revelar. É assim que a honra do jornalismo é mais nobre e antiga do que hoje é moda pensar.

Sou conservador não por natureza, mas por convicção. Infelizmente, há uma diferença. Quem escreve tem a obrigação de achar uma verdade. Nesse aspecto, algumas destas crónicas – sem dúvida as menos divertidas – saíram bem. Não foi sorte nem feitiço nem jeito. Foi um trabalho que eu tive. Foi qualquer coisa – por muito mesquinha e muito enganada – que eu continuei e que hoje me orgulho de continuar. "


Prefácio do Livro " As minhas aventuras na República Portuguesa " - Miguel Esteves Cardoso