sexta-feira, setembro 29, 2006

Putos ...

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São paredes sujas com a revolta
Sem querer elas guardam palavras
Mas se a tinta que tu usas vira sangue
Aonde irão os putos buscar asas !?!

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E aquilo que arde na mão e que não é teu
Achado num desejo e pago com o meu suor
São os abraços que a grade já te deu
E os putos que nela encontram a dor
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E as cicatrizes que os putos exibem
São linhas do destino cozidas pela dor
Nas ruas aonde os putos as dividem
Como se a marca de uma camisola
lhes podesse dar amor
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São putos vazios sem destino
que perdidos vão juntos sem rumo
num caminho por onde se vai sozinho
os putos vão...
procurando o seu lugar no mundo
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terça-feira, setembro 26, 2006

A multidão, Vol.I : O cacilheiro





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Num cacilheiro
cheio de episódios
Retratos vazios
de uma vida qualquer
Uns eram novos ...
e outros eram velhos
E na dúvida eram segredos,
no corpo de uma mulher…
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E num cacilheiro
ela brincava
Presa por ondas
às margens da realidade
Junto de uma onda
com que sonhava
E que perdida ficou....
naquele cais
pela saudade

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E o barco laranja

mergulhava nas ondas
Cortando delicadamente
a sua espuma
E á minha frente
riam-se duas tontas
das piadas de uma delas,
contada por uma

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E então o rio acabava
aos pés d’uma estátua
e as pessoas voltavam a esmagar
quem elas são
Fogem em passo acelerado
da sua mágoa
E em curtas passadas,
elas passam
por onde vão

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...
... atravessar o rio já não tem a mesma magia de outrora

terça-feira, setembro 19, 2006

Mulher bailarina

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Oh doce bailarina
com asas de borboleta
que escondes o desejo
de ser apenas mulher
Danças sobre o palco
escondendo uma lágrima
e bailas sobre a vida
fugindo de Moliére
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" Chegaste de passos apertados
Os olhos embargados
Cheios de medos teus
Pediste que te levasse a mágoa
E que te tocasse a alma olhando para os meus "

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Teu corpo gasto
numa alma sedenta
presa a quem te procura
por um mero segundo
Deixou-te um sorriso vago
que sozinho só disfarça
O sonho de um canto
quando o que tens ...

é o mundo


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"Apertei-te contra ao peito, num abraço perfeito "

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E tudo se resume
a um foco de luz
que te prende
a tábuas de cânfora
onde um gesto perpétuo
se reduz
aquilo que o teu olhar
num desejo alcança

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"A rua como companhia
Às vezes escura e fria
Pura realidade
Ninguém olha p'ra ti
Com olhos de gente
Até mesmo indiferente
A quem és de verdade

Esquece o teu mundo lá fora
É hora de ir dançar "

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" Esta noite dança só p'ra mim
Que esta dança nunca tenha fim
São asas que me dás
Levam alto p'ra longe


Esqueçe o teu mundo lá fora
É hora de ir dançar


Esta noite dança só p'ra mim
Que esta dança nunca tenha fim
São asas que me dás
Levam alto

Esta noite dança só p'ra mim
Que esta dança nunca tenha fim
São asas que me dás
Levam alto p'ra longe
até de mim
até de mim "

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Mas hoje não...
porque tu hoje
vais dançar "só p`ra mim"
meu anjo de olhar negro
meu perfume de doce jasmim


E hoje vais dançar "só p`ra mim"
quando isso é apenas e somente
dançar para ti

...
e por isso hoje dançamos ...
meu anjo...
minha doce...
mulher-bailarina

quinta-feira, setembro 14, 2006

Tentar esquecer...

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Esqueço o que vi
e já não me quero lembrar
se mereço estar aqui
se aqui mereço estar
...
pois sei que o meu preço é
com o teu ter que sofrer
pagaste-me com desprezo
o que eu te dei sem querer
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e esqueço
que já não me consigo lembrar
o que te prometi
numa promessa ao luar
quando me esqueci
que tinha que me esquecer
esquecer-me de ti
de ti me esquecer
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e esqueço
o teu nome e a tua morada
a cor dos teus olhos
e os molhos de cartas
esqueço os retratos
e as pegadas na praia
esqueço-me de ti
outrora doce
agora amarga
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e esqueço....
mesmo quando esquecer
é apenas não querer lembrar
as letras que foram um todo
na palavra que não iria quebrar
porque esquecer é um verbo
que não tem tempo futuro
é apenas um sentimento duro
de quem não consegue esquecer
de quem não se quer lembrar
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quinta-feira, setembro 07, 2006

O Quadro...

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São lágrimas de uma pastora
a chover na terra
É uma sombra
numa pintura de Millet a chorar
São pétalas de uma rosa
numa jarra perdida
Chorando por uma dor esquecida,
com as lágrimas
de uma flor a chorar
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São estradas paradas,
entre ruas para correr
São caminhos cruzados,
e um pé para andar
É um sorriso desalegre…,
de quem se quis esquecer
sabendo o que se dizia
sem saber o como sonhar
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Era uma voz suave
num rebanho a gritar
E alguém sentado
numa planicie a ouvir
A voz de quem andou
por ali a pregar
A voz de quem andou
por ali a rir
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E sob a luz de uma tela
a escuridão d’um poema
E na letra de um som,
um espirito retratado
Que fala de um vazio,
preso a uma pena
Onde um olhar esconde,
o desejo de ser encontrado
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Se existe um quadro que me fascina é este
"Shepherdess with her Flock"
de Jean Francois Millet
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Porquê ???
Não sei...