
espaços vazios
enchem-me de dor
pela ausência
de quem não chega
rascunho linhas
despidas de cor
numa soma dividida
numa conta cega
Ela nem imagina
Ele nunca me vai ver

reparo no improvável
que tarda em chegar
como se a perda
fosse um retalho menor
onde o sujeito deixa
o tempo singular
preso a um canto
num remendo sem cor
Se ele sentisse
Só por uma vez
Que paro quando fala
Que rio quando olha
E coro quando é p'ra mim
E quero que me agarre

E aqui me escondo
de quem fica a ver
devorado pela rua
que o beco persegue
As letras pintam
cartas sem querer
sobre o passado
que não se perde

Fingindo não o ver
E a vontade desistiu
à porta num toque
como se a coragem
não tivesse validade
o olhar não foi além
do desejo por sorte
e parado ele ficou
agarrado à saudade

este meu estar
que me consome
deixa me agarrado
e tão pronto
como se a chuva
fosse areia mole
numa doce vaga
que me leva o sonho
