quarta-feira, julho 25, 2012

terça-feira, julho 24, 2012

Um dia escreveste...

terça-feira, julho 03, 2012

Madre ...


" Por todas as razões e mais uma.
Esta é a resposta que costumo dar-te
quando me perguntas por que razão te amo.

Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém.
Porque não pode haver
nem há só uma razão para te amar.

Amo-te porque me fascinas
e porque me libertas
e porque fazes sentir-me bem.

E porque me surpreendes
e porque me sufocas
e porque enches a minha alma de mar
e o meu espírito de sol
e o meu corpo de fadiga.


E porque me confundes
e porque me enfureces
e porque me iluminas
e porque me deslumbras.

Amo-te porque quero amar-te
e porque tenho necessidade de te amar
e porque amar-te é uma aventura.

Amo-te porque sim
mas também porque não
e, quem sabe, porque talvez.

E por todas as razões que sei
e pelas que não sei
e por aquelas que nunca virei a conhecer.

E porque te conheço
e porque me conheço.

E porque te adivinho.

Estas são todas as razões.

Mas há mais uma:
porque não pode existir outra como tu. "

...


amo-te pelos teus defeitos refinados
e amo-te pelas tuas virtudes raras ...

Não Pode Existir Amor Sem Verdadeira Troca


" Não te lembras de ter encontrado na vida aquela que se considera um ídolo?
Que havia ela de receber do amor?


Tudo, até a tua alegria de a encontrares, se torna homenagem para ela.
Mas, quanto mais a homenagem custa, mais vale: ela saborearia melhor o teu desespero.
Ela devora sem se alimentar.
Ela apodera-se de ti para te queimar à sua honra.
Ela é semelhante a um forno crematório.
Ela, na sua avareza, enriquece-se de várias capturas, julgando encontrar a alegria nessa acumulação.
E não acumula mais do que cinzas.
Porque o verdadeiro uso dos teus dons era caminho de um para o outro, e não captura.
Ela verá penhores nos teus dons e abster-se-á de tos conceder em paga.
Na falta de arrebatamentos que te satisfariam, a falsa reserva dela far-te-á ver que a comunhão dispensa sinais.
É marca da impotência para amar, não elevação do amor.
Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento.
Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de um palavreado.
Não descuides as felicitações, nem os presentes, nem os testemunhos.
Serias capaz de amar a propriedade, se fosses excluindo dela, um por um, como supérfluos, porque particulares demais, o moinho, o rebanho, a casa?
Como construir o amor, que é rosto lido através da urdidura, se não há urdidura sobre a qual escrever?
Sem cerimonial de pedras, não haveira catedral.
Nem haverá amor sem cerimonial em vistas do amor.
Eu só atinjo a essência da árvore se ela modelou lentamente a terra segundo o ceriomonial das raízes, do tronco e dos ramos.
Nessa altura, ela é una.
Tal árvore e não uma outra.
Mas aquela acolá desdenha as trocas, que a haviam de fazer nascer.
Ela procura no amor um objecto capturável.
E esse amor não tem significado algum.
Ela julga que o amor é presente que ela pode fechar nela.
Se tu a amas, é porque ela te conquistou.
Ela fecha-te nela, convencida de enriquecer.
Ora o amor não e tesouro a conquistar, mas obrigação de parte a parte, fruto de um cerimonial aceite, rosto dos caminhos da troca.
Jamais essa mulher nascerá.
Só de uma rede de laços se pode nascer.
Ela continuará a ser semente abortada, poder por empregar, alma e coração secos.
Ela há-de envelhecer funebremente, entregue à vaidade das suas capturas.
Tu não podes atribuir nada a ti próprio.
Não és cofre nenhum.
És o nó da diversidade.
O templo, também é sentido das pedras."


Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"