domingo, julho 29, 2007

Dor da mar

Penúltimo post antes do virar de uma página...










Sentado na areia,
de uma praia de sal
Quis ser a
gaivota
que para o
sul partia
Quis morrer
na maré,
que vinha
do vale
Quis ficar ali
contigo,
só mais um dia








Mas com o disfarce,
de uma onda do mar
Onde as gotas de água
secam as nuvens do dia
Deixei perdida a saudade
que eu tinha do verbo amar
Por entre os grãos de areia
que a mão no mar colhia








Mas o mar aproxima-se,
lentamente da voz
Quando as aves agarram,
o vento inerte
É o som de nenúfares,
folhas tão sós...
Ou será a música,
que um beijo nela verte !?!








E o amar dela
que nela afrontou o mar
Acolhe a lágrima azul
que lá cresceu
É o abraço terno
de quem ficou a chorar
Por um olhar que no mar
o mar nunca te-mereceu...








Mas fica por aqui ò mar
que
revolve e agita
num novelo de espuma
vazio de
cheiro e cor
onde uma
gaivota disfarçada
chora e grita
pelo barco que um dia
levou
o seu Pescador



domingo, julho 15, 2007

Mulher…(es)

Depois de uns dias perto da minha falésia preferida...
regresso e volto a encontrar inspiração naquilo que mais me inspira
a mulher...
mas esta(s) é especial.., não a conheço..., mas já a conheço ...
este poema é " feito de pedaços de mulheres " ...
mulheres que por aqui, se tornaram especiais na vida de um Pescador
... mulheres que já fazem parte da sua história...,
tatuagens na minha alma...













SE_DUZ,
perSEGUE-me,
e fica sentada
na ESQUINA a espreita…
EscONDE-se
e NÃO fala,
e fica à espERA
daquele que NÃO CHEGA









Sabe sorrir à LUA
com gestos bruscos
carregados de BELEZA
Com a mesma pureza ...
com que se vESTE de
BRANCO
Embora O sabor do lábio
TEM por vezes
o gosto do pranto…








PintAS FIOS
com a cor do sol,
LINHAS negras
a mEIo do rosto
Seguras JÓIAS
junto ao peito,
e ouves o GRITO da safira
tão perto...








Escondes os DEDOS
num bolso,
e o OLHAR
perto da lua
deixas um RASTO de desGOSTO
GOSTO
por entre as sombras ...
da SOMBRA
de uma mulHER nua








Tu és o TRIGO
que é colhIDO no campo
e a ESMOLA
que me é posta no prATO,
TU ÉS a mendi
CIDADE
nos mEUs olhos…,
e a FORÇA que eu sinto
no teu abrAÇO








Tu és o VENTO
que soPRA do norte
e o SOL que me aQUEce
à noite no verão
Tu és o Janeiro
no PRINCIPIO de uma vIDA
Tu és o Agosto
no FIM de uma estação









Tu és MULHER
no meio de sombras
RETRATOS parados
de quem quis olhar
Tu és a ESTRELA
nas curvas e ondas
AMAR salgado
bendito PECADO
esse... de seres...
SIMPLESMENTE mulher


domingo, julho 01, 2007

Adeus










" Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,







e o que nos ficou não chega







para afastar o frio de quatro paredes.







Gastámos tudo menos o silêncio.







Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,







gastámos as mãos à força de as apertarmos,







gastámos o relógio e as pedras das esquina







sem esperas inúteis.






















Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.







Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;







era como se todas as coisas fossem minhas:







quanto mais te dava mais tinha para te dar.







Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.







E eu acreditava.







Acreditava,







porque ao teu lado







todas as coisas eram possíveis.























Mas isso era no tempo dos segredos,











era no tempo em que o teu corpo era um aquário,











era no tempo em que os meus olhos











eram realmente peixes verdes.











Hoje são apenas os meus olhos.











É pouco mas é verdade,











uns olhos como todos os outros.




























Já gastámos as palavras.











Quando agora digo: meu amor,











já não se passa absolutamente nada.











E no entanto, antes das palavras gastas,











tenho a certeza











de que todas as coisas estremeciam











só de murmurar o teu nome











no silêncio do meu coração.










Não temos já nada para dar.











Dentro de ti











não há nada que me peça água.











O passado é inútil como um trapo.











E já te disse: as palavras estão gastas.












Adeus."












Eugénio de Andrade